sexta-feira, 4 de novembro de 2011

São Vicente tem tudo para dar certo, com certeza


Arranca hoje o fórum “São Vicente tem tudo para dar certo”, com direito a abertura oficial de S.E. o Sr. Presidente da República de Cabo Verde, Doutor Jorge Carlos Fonseca.

Ora, eu nunca duvidei que esta ilha tem tudo para dar certo. Mas a crua verdade é que muitos não acreditam e, ao invés de apresentar soluções viáveis, a primeira ideia que vem à tona é a “emigração” (acho que a realidade deste país permite-me utilizar esta palavra) para Praia (não Santiago, atenção).

Não ignoremos também o fato de São Vicente ter sido abandonada e ignorada governo após governo. Acredito que São Vicente há de melhorar por razões óbvias. Uma dessas razões que me leva a acreditar nisso é o abrandamento do desenvolvimento da Praia, um abrandamento óbvio, tendo em conta o boom que se conheceu desde um passado muito recente até aos últimos anos.

O desenvolvimento que São Vicente precisa agora é maior. Porém, não se pode pensar em desenvolvimento económico sem uma drástica mudança de mentalidade e de atitude. Aqueles que se queixam sempre dizendo que “Soncente ta canhambra” são os que menos ou nada fazem para reverter a situação.

O Mindelense, depois de uma grande noitada no depôs de sabe morrê ca nada, deitou-se no comodismo, embriagou-se na sabura e ficou à espera que o desenvolvimento chegasse. Mas o desenvolvimento levou uma calaca da crise, foi desviado do Aeroporto de São Pedro, aterrou no Aeroporto da Praia, foi bem recebido e fez “mau costume” por aí. E nós, os mindelenses, nem sentimos saudades porque estávamos a pensar em alguma forma para desfilar em dois grupos de carnaval e no próximo festival da baía.

Enquanto a Pró Praia pede estatuto especial para a cidade, que já é capital de Cabo Verde, os artistas mindelenses desesperam por não verem a luz do seu trabalho e os seus projetos e ideias serem ignorados.
O desenvolvimento económico de São Vicente passa por uma maior circulação monetária, o incentivo e apoio ao empreendedorismo, políticas de desenvolvimento turístico e, sobretudo, acreditar que a sua maior fonte de rendimento está na cultura. Não é preciso termos um ministro da cultura artista para acreditar no óbvio. E nem há necessidade de movimentos do género “Cordá Monte Cara”, que adormecem à sombra da bananeira. Mas, o mais interessante é o fato de, no fórum, não constar nenhum painel sobre cultura ou economia de cultura. Estará a cultura patente em alguma apresentação de projetos da CMSV ou dos empresários? Aí, então, ponho as minha dúvidas.

São Vicente tem tudo para dar certo, sim. Mas para isso precisamos de fazer a nossa parte e exigir que o vizinho faça a sua, para depois cobrar da Câmara e do Governo. Não basta sermos apenas cobradores que acham que, por ter os impostos em dia, têm pleno direito a ter vida de rei.

Para desespero dos poucos que remam contra a maré, o desemprego assemelha-se a um cancro e tudo em que se investe é como terça-feira de carnaval.

É uma tristeza ver uma cidade com tantos universitários sem espírito universitário, sem ambição, sem espírito patriótico e simplesmente à caça de um diploma para ter um emprego que não os deixe morrer à fome, mesmo que paguem, com o corpo, avultadas propinas.

A cultura geral da nova geração (e mesmo da minha) é uma vergonha e o interesse pela história do país uma aberração.

O Eden-Park tornou-se um símbolo do nível de abandono a que esta ilha foi votada. Um mártir do desinteresse dos mindelenses que, cinicamente, choram a sua morte.

O espírito empreendedor dos jovens fica aquém do desejado, pois, em São Vicente, os projetos não passam do papel e quando alguém se atreve um pouco mais ou é alvo de chacota ou algum poder que se julga supremo trava-o.

Urge a criação de um espírito de perseverança, atrevimento e mesmo alguma teimosia para que as coisas funcionem.

A mudança de mentalidade devia ser um tema a ser levado em conta com muita seriedade neste fórum que hoje se abre ao público.

Foto: neulopes

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